SÉRIE COMO MEIO DE ALERTA
Programa de entretenimento promove a reflexão sobre temas como a depressão, bullying e suicídio
Pensar em tirar a própria a vida é comum entre pessoas que sofrem de doenças como a depressão, considerada a doença do século, bipolaridade e esquizofrenia. Apesar de muitas pessoas não considerarem transtornos psicológicos como doenças, eles são capazes de gerar consequências catastróficas para muitas pessoas, além de aparecer em diversas situações, por diversos motivos e em qualquer idade.
Esse tema que sempre foi tratado com discrição durante muito tempo e permaneceu as escondidas para que não fosse capaz de ‘incentivar’ outras pessoas, gerando assim cultura de que é errado descutir o suícidio, mesmo que os casos somente aumentem a casa ano.
Atualmente foi mostrado o quanto é importante falar sobre o tema para que casos de suicídio não aconteçam. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta sobre a discrição e a cautela sobre como o tema deve ser divulgado, e uma série de TV americana tenta retratar de forma real promovendo uma reflexão à adolescentes através de algo com assessibilidade e proximidade desse publico.
A Série
Após o lançamento da série ’13 Reasons Why’, do Netflix, no dia 31 de março de 2017, o assunto passou a ser debatido de forma constante em todas as mídias, principalmente na internet. Jovens que sofrem bullying ou que tiveram algum grande trauma, seja uma perda ou um abuso, tem a tendência a entrar num quadro de depressão que, por mais que não transpareça, os corroem dia após dia.
A série, inspirada em um livro lançado em 2007, conta a história de uma adolescente que comete suicídio e deixa 13 gravações com os porquês de ter feito isso. As gravações chegam às mãos de um de seus amigos, citado em uma das gravações, e daí em diante o espectador fica entretido com o segredo de cada uma das fitas e dos motivos. Denúncias de bullying, estupro e de casos de depressão são mostradas pouco a pouco, motivo pelo qual a discussão estrou em pauta.
Alguns especialistas se preocupam com o fato de alguns jovens quererem imitar a série, trazendo-a para a vida real. Como o fato ocorrido em 1774 na Europa, onde um livro levou muitos jovens a se suicidarem. A ideia de apontar os culpados é outro fator que leva a preocupação, como se houvesse uma explicação para o ato.
A parte boa da abordagem da série é sobre como os jovens que assistiram e que se sentem na mesma situação que a personagem principal foram incentivados a buscar ajuda. Porém, também pode dar "idéias" pra quem se identifica com Hannah Baker, personagem principal do seriado.
Para o Psicanalista Marcos Wagner, problemas sociais e na maneira de pensar dessas pessoas são o principal motivo delas perderem a vontade de estarem vivas, principalmente na adolescência. "O rebaixamento da importância do núcleo familiar, a superficialidade como a nossa geração tem tratado a vida, a “falta de tempo”, ausência de diálogo, o enfraquecimento da relação parental, a relativização de valores, a terceirização da educação, a quebra da transmissão familiar, de alguma forma tem dificultado jovens e adolescentes a encontrar as pistas que o levarão ao caminho de um propósito existencial." Afirmou o especialista.
Números
Com a grande repercussão da série 13 Reasons Why, o Centro de Valorização da Vida (CVV) recebeu cerca de 400% a mais de ligações, e-mails e mensagens de pessoas buscando por ajuda ou que conhecem alguém que possa estar pensando em se suicidar.
Estima-se que 1 milhão de pessoas morram anualmente por suicidio, uma a cada 40 segundos, o que equivale a 1,4% dos óbitos totais. De um total de 172 países membros, a OMS considera que apenas 60 enviam dados de boa qualidade, na maioria, nações desenvolvidas. E é justamente nos 112 restantes que se encontram 71% dos suicídios registrados no mundo.
O sudeste asiático e a Europa lideram os indices de suícidios com 17,1 e 13,8 suícidios por 100 mil, respectivamente. O Brasil está entre os países com dados questionáveis, com indice considerado baixo, 6/100 mil, mas que não dá pra confiar totalmente. Estima-se que entre os anos de 2000 e 2012, passamos de 7.726 para 10.321 suicídios no país.
Também segundo a OMS, a depressão afeta atualmente cerca de 300 milhões de pessoas no mundo. Em 10 anos esse número acresceu quase 20%. No Brasil, quase 6% da população sofre com a doença, equivalente a cerca de 11 milhões de pessoas. A doença está no topo da lista de causa de problemas de saúde e incapacidade.
Experiência: dois casos de suícidio na família
A jovem Jamilly Santos, de 24 anos, teve dois casos de suicídio na família: seu tio, Marcos dos Santos, morreu aos 30 anos, e seu primo, Henrique dos Santos, aos 18. Jamilly disse que depois de seus familiares colocarem um fim a suas vidas, ela e o restante da família começaram a analisar os comportamentos das vítimas momentos antes dos suicídios.
Como não podemos deixar de falar, cada caso é diferente do outro, pois cada pessoa tem seus próprios problemas e maneiras de lidar com isso, não sendo possível fazer uma generalização.
No caso de Marcos, Jamilly afirmou que o tio era tímido, mas brincalhão e amoroso, e tinha histórico com drogas como maconha e cocaína. Já Henrique, seu primo, que também fazia o uso de drogas, tinha um temperamento introvertido, era bastante sensível e chorava por tudo. A família suspeita que o suicídio de Henrique aconteceu por problemas com traficantes, por causa de uma carta que ele deixou a família. Sobre Marcos as suspeitam ficam mais difíceis, pois nada foi deixado.
Uma das reações da família às mortes pelo suicídio foi a procura de lugares para cura espiritual, como a igreja. “O impacto de um suicídio é enorme, pois além da dor ainda tem o medo de que volte a acontecer”. Mas ela também citou que as atitudes das pessoas em sua família mudaram depois dos ocorridos. "Hoje procuro sempre dar uma palavra amiga; minha família é muito mais amorosa agora. Minha avó era bem rude, e hoje só recebe os filhos e netos na casa dela com beijos e abraços, chamando a gente de amor."
"A principal lição que tiramos de todo esse sofrimento, é que ninguém sofre por nada. É sempre bom estarmos presentes na vida das pessoas que amamos, perguntar se está tudo bem, e se estiver, fazer de tudo pra que continue. E para onde quer que vamos, sempre levarmos conosco um sorriso, porque em algum lugar alguma pessoa está sofrendo e pensando em se ferir. Como deve ser bom ser o intermediário da cura, a pessoa que apresenta um caminho diferente a se seguir. Queria muito que meus familiares tivessem encontrado alguém naquele momento de angustia que pudesse oferecer a eles um abraço, um sorriso, uma palavra de conforto”, concluiu.
Prevenção: Atente-se!
A solidariedade das pessoas com relação a série foi mutua nas redes sociais. Pessoas estão oferecendo apoio e ajuda aos amigos que podem estar passando por algum tipo de crise de depressão ou algum outro problema psicológico.
Mas para que haja a prevenção da vida dessas crianças e adolescentes, mais afetados por essas atividades, é necessária uma maior participação dos pais. Fiscalizar e monitorar o comportamento do filho é essencial. Além do diálogo, que é fundamental para qualquer tipo de relação, principalmente os que envolvem uma doença complexa como a depressão. O primeiro passo para alguém que está sofrendo é conversar.
Após esse reconhecimento sobre os próprios sentimentos e sobre a doença, é necessário buscar ajuda de um médico, terapeuta, psicólogo ou psiquiatra.
A depressão é uma doença tratável, que necessita acompanhamento médico. E na maioria dos casos há a utilização de medicamentos e terapias.
Caso conheça alguém que esteja nessa situação, tendo pensamentos suicidas, ligue para 141 e siga as instruções do Centro de Valorização da Vida. O atendimento é oferecido 24h e profissionais voluntários estarão prontos para ajudar.